Prólogo
Lançando aos poucos as cinzas daquele lugar ao ar, as chamas tomavam conta de tudo aquilo que ela um dia chegou a chamar de lar. As imensas árvores que serviam de moradia para seu povo agora estavam caindo aos pedaços, o lago cristalino ao qual eram celebradas todas as noites as conquistas de seus ancestrais e as bênçãos de seus deuses, agora estava repleto de corpos ensanguentados, a transparência dele tinha tomado um tom rubro intenso e o cheiro que exalava dali lhe dava ânsia de vômito.
Cryska estava naquela carroça, amarrada e amordaçada para que não pudesse fugir, junto às outras elfas com intuito de lhe arrastarem para fora de sua terra natal. As grades que lhes prendiam ali já estavam com marcas vermelhas quase invisíveis a olho nu – prova de que seu costume monstruoso já havia percorrido vários anos – Após os humanos terem capturado uma boa parte dos habitantes dali, eles resolveram que era hora de ir embora.
Vivendo aquela situação, ela sentia um aperto no peito, um dia estavam vivendo ela e seu povo em uma paz e harmonia com os outros seres da natureza, e hoje estavam sendo transformados em escravos daqueles que antes eram considerados inofensivos, mas que agora revelavam sua real natureza – que já havia sido mostrada para outros povos, mas que agora esta realidade já se tornava consciente do seu – Agora, após ter visto vários queridos companheiros perecerem nas lâminas sedentas de seus opressores, Cryska temia por sua vida. A prática da escravidão feria totalmente seu orgulho élfico, se fosse possível ela preferiria a morte a passar por aquela situação humilhante, porém uma promessa lhe dava uma vontade imensa de viver.
Olhando para os lados, a jovem podia ver alguns elfos acorrentados em fila indiana, andando na direção que o caminho os levava, alguns eram bruscamente empurrados por humanos com a finalidade de apressar seu passo. No rosto deles podia-se ver que a esperança já se esvaía, era triste a realidade, estavam fadados a serem guiados pelo destino a partir de agora, nada o que pudessem vim a fazer poderia mudar aquilo, já que todas as suas forças não foram o suficiente para neutralizar aquela investida naquela noite.
Bem na frente da fila de acorrentados, ela conseguia visualizar uma figura imponente, era Shawe, um elfo ruivo, com estatura alta, seus cabelos caiam sobre seu dorso cobrindo assim aquilo que ele tinha que despertava tanto a cobiça das pessoas. Aquele sim era alguém que lhe atiçava a curiosidade, desde o primeiro dia em que se falaram. Ele não tirava seu olhar daquele que ia a frente, comandando as tropas: Era um cavaleiro com roupas brancas e detalhes marrons, sua fina capa caia e cobria toda a parte traseira de seu garanhão.
Embora não tivesse armadura ele não tinha nenhum arranhão, guiando assim seu exército o Carrasco Grimorry mantinha sua pose sutil a frente de seus homens, e isso era o que mais despertava ódio no olhar de Shawe, como alguém após promover um massacre poderia mostrar tamanha frieza?
Shawe cruzou o seu olhar com o de Cryska após desviá-lo por causa do nojo daquela visão, eles não eram tão íntimos, mas suas convicções eram semelhantes, ambos não queriam se entregar de jeito nenhum, mesmo que isso significasse perder suas vidas, contanto que escapassem daqueles monstros e tivessem suas forças revigoradas para restaurar a força dos Guardiões de Kielrhn.