Capítulo 26 - Movimentos
— Shirotaka-sama, Abacchi-sama, Akira, Hana, Rizell, Yusuke, Tora e Tron, eles desapareceram! Corre os boatos que eles se uniram para ir para Avici! — Entrava esbaforido e ofegante Kenshin, que devido a sua natureza peralta era praticamente um mensageiro e/ou informante pronto para noticiar tudo que se passa naquele Distrito.
Ao ouvir o dito pelo jovem menino, Shirotaka suspira e entrefecha os olhos reabrindo-os languidamente, virando o rosto para outro jovem que se mantinha de pé ao lado do líder como se fosse uma sentinela.
— Obrigado Kenshin-kun. Sua informação me foi muito útil. — Disse o homem calmamente como se já esperasse por isso.
— O que você fará Shirotaka-sama? Você vai atrás deles? — Perguntou o menino com grande aflição na voz, pensando nos inúmeros perigos que o grupo poderia estar passando.
— Não. Eu tenho outros planos; e estaremos colocando em prática hoje.
Kenshin não havia entendido o porquê de seu líder não havia se disposto a ajudar Akira e os outros, indo também à Avici. Ostentava um olhar angustiado que refletia seus pensamentos.
— Não se preocupe Kenshin-kun. Todos eles são muito fortes, eles conseguirão resgatar Tohma sem minha ajuda. — Fitou o homem depois de levantar do seu assento e colocar sua mão pesada e máscula sobre a cabeça do menino, abaixando levemente para que seu rosto pudesse ser visto de frente pelos esbugalhados olhos do garotinho, sorrindo ao terminar de falar.
Uma sensação terna invadiu Kenshin. Por mais que pudesse estar preocupado com seus amigos, o afago produzido pelas palavras de Shirotaka retirava um imenso peso de seu coração.
— Kenshin-kun, agora você deve ir para o abrigo. — Imperou o homem, não deixando de lado sua habitual tranquilidade e simpatia, ao menino de modo que ele agora caminhava em direção a saída da tenda.
O garoto obedeceu a ordem do chefe dos Revolucionários.
Já fora da tenda, e agora acompanhado do rapaz que lá dentro também estava Shirotaka reuniu-se em uma área aberta — como se fosse uma espécie de pequena praça — onde já estavam a sua espera, todos os outros Revolucionários que por ele são liderados. Todos ostentavam poses confiantes e vestes que mais pareciam trajes de guerra. Foi quando Shirotaka anunciou-se como sua voz grave e altiva:
— Companheiros, hoje Metropolis conhecerá a maior luta de sua história, vamos finalmente tomar o poder e criar uma nova realidade. Um novo mundo nos aguarda; um mundo mais igualitário e fraterno. Vamos finalmente nos livrar das correntes que nos prendem na miséria e oprime nossos corações! Eu conto com a força de cada um de vocês; e que os céus estejam do nosso lado! — Discursou ele entusiasmado refletindo em euforia máxima nos guerreiros que ali estavam.
De repente, Shirotaka sentiu a presença de alguém ao seu lado de forma que virou sua face para vê-lo. Tratava-se do irmão mais velho de Hana, Hayato, um rapagão de alta estatura, porém de musculatura definida. Seus olhos, cabelos e pele, ornam-se igualmente em um tom acastanhado que criam linhas sutis e ao mesmo tempo viris em uma beleza rústica, mas não menos formosa.
— Shirotaka-sama, os homens de Tatsuo-sama e dos outros Imortais já estão preparados para a batalha. — Noticiou o jovem que, devido a suas capacidades telepáticas, comunicava-se com outros iguais a si, trocando informações sobre as condições dos batalhões em cada local daquela extensa selva de pedra.
Tatsuo era o líder de uma outra facção de Revolucionários, posição semelhante a que Shirotaka possuía. O primeiro tinha como um de seus subordinados o irmão de Hana, que agia como ponte de comunicação entre os dois grupos que se fixavam em lugares distintos de Metropolis. E não eram somente Tatsuo e Shirotaka que ostentavam tal liderança. Conforme a luta e os ideais de Revolução foram se espalhando, inúmeros grupos se formaram ao longo dos anos. A diferença era que alguns foram dissolvidos e desmembrados ou mesmo totalmente suprimidos, enquanto outros jamais caíram perante a Polícia Metropolitana, especialmente seus líderes. Os oito maiores líderes e de maior poder dentro da frente Revolucionária, são comumente chamados de “Os Oito Imortais”.
— Certo, vamos começar as operações. — Disse Shirotaka desta vez sério e dono de um olhar concentrado que já evidenciava sua postura pronta para lutar.
...
Enquanto isso em algum lugar de Avici, Hana encontrava-se diante de uma situação arriscada: lutar contra Mr. Magoo e suas aberrações e conseguir a tempo salvar Tora de seus ferimentos e do veneno injetado em seu corpo pelas garras de Wendigo. O menor vacilo custaria a ela um destino atroz e ela estava ciente disso.
— Hahahahaha — Gargalhou alto o velho. — Com vocês, Mr. Magoo e seu teatro de marionetes vivas, o maior domador de feras. Contemplem este espetáculo... — Disse o homem como se estivesse em um palco circense anunciando a si mesmo, interrompendo-se no final sendo tomado por uma aura assassina. — da mais pura carnificina. — Terminou ele agora com uma expressão macabra e psicótica.
Hana exalou uma grande quantidade de seikatsu de uma só vez enquanto o velho agitava seu chicote do mesmo material e suas feras instigavam-se sedentas por sangue. Rapidamente, Wendigo avançou contra a garota buscando dilacera-la com suas garras mortais da mesma forma feita contra Tora. Contudo, habilmente a Revolucionária evadiu-se do golpe em grande velocidade.
— Foi bom ter aprendido o Idou com Abacchi-sama mesmo que sejam raras as situações em que eu luto sozinha. — Pensou ela com os olhos levemente focados para o animal que fora ultrapassado pela jovem que agora ficava “costas a costas” com ele.
Percebendo que a garota posicionava atrás de si, o grande animal buscou repeli-la com um movimento veloz com seu membro superior, que devido a grande velocidade gerou um impressionante deslocamento de ar naquele local. Hana novamente desviou do ataque do bicho, quando percebeu em seu encalço a serpente, pronta para um bote mortal, com toda sua mandíbula aberta de tal forma que podia se ver gotículas de veneno escorrerem nas presas inoculadoras da mesma.
— Não vai me pegar! — Disse ela quase que de maneira simultânea ao ato de esquivar da bocarra do ser ofídico.
— Você só sabe fugir! — Provocou o velho, agitando seu chicote desta vez ordenando o Minotauro a atacar com seu poderoso par de chifres.
Hana então saltou de modo de que ao mesmo tempo, conseguiu desviar do ataque e colocou-se pronta para lançar seu golpe. Um soco, aparentemente simples, que por sua vez fez o monstro cair nocauteado e desfalecido.
— Eu também sei atacar! — Replicou ela erguendo seu punho para o homem causando-lhe cólera.
O ataque da garota consistiu numa descarga imediata de seikatsu no momento do soco correu pelas enervações do Minotauro eté atingir o cérebro bloqueando o envio de estímulos de movimentos. A aberração, a partir dali, seria incapaz de se mover por alguns minutos. Um truque relativamente simples para quem domina anatomia como a garota.
— Ora sua... — Disse ele rangendo os dentes.
Hana agora se sentia confiante; sabia que poderia vencer e escapar dali com vida e fazer muito mais por seus amigos do que somente curá-los em momentos de risco de vida. Seu coração flamejava retumbava tão forte que parecia que ia sair pela boca. Sentia a adrenalina ser jogada em cada uma de suas células e que fazia seu corpo pulsar de maneira nunca antes vista. Seu espírito também mudara; um espírito que irradiava um brilho que espantava Tora, que mesmo beirando a morte conseguia enxergar. Uma convulsão de sentimentos e sensações que conferia a garota a sabedoria de como lutar numa situação daquela.
— Tora-kun, aguente firme e não desmaie; eu vou tirar a gente daqui!
Ouvindo a fala da garota, Mr. Magoo não pode deixar de interpretar aquilo como afronta e audácia por parte da mesma. Exasperado, ele ordenou um ataque conjunto de suas feras. Do fundo da sala surgiu uma ave de bico longo e retorcido; suas penas ornavam uma figura grotesca e percebia a ausência delas no couro do pássaro, como se houvesse sido arrancadas anteriormente. Possuía garras enormes e dois pares de patas — um deles dispunha-se como se fosse um prolongamento de suas asas. Voando rasante, a ave ecoou um gorjeio que atordoou a jovem Revolucionária de tal modo que a fez vacilar e cuspir sangue. Em seguida, foi a vez da serpente, que ao colidir sua cauda com o corpo da moça, a arremessou contra as grades das jaulas que outrora aprisionava aquelas bestas. Sem demorar, foi a vez de Wendigo, a fera que nocauteara Tora atacar do mesmo modo que causou grandes ferimentos ao rapaz. Hana, que devido ao impacto da cauda do ofídio passou a apresentar dificuldades de se mover, tentou — inutilmente — usar mão de seu Idou para escapar daquele golpe mortal. Sem sucesso, um corte horizontal foi aberto em sua barriga de modo que uma intensa hemorragia se fez no local. Não satisfeito com o resultado, Mr. Magoo agitou seu chicote de seikatsu, de modo que a fera de garras venenosas novamente atacasse Hana, bradando sincronicamente:
— Morra!